Entrevista: Helder Horikawa

O Jornal Nippo-Brasil, antigo Notícias do Japão, é o maior jornal sobre a comunidade japonesa. Feito para leitores interessados nessa cultura, o impresso atende, de forma completa, todas as necessidades do público tanto no Brasil como no Japão.
Além disso, é o único jornal que dedica espaço ao evento migratório vivido pelo Brasil, envolvendo cerca de 260 mil nipo-brasileiros que estão trabalhando no Japão (dekasseguis), que são responsáveis pela remessa anual para o Brasil de aproximadamente 2,5 bilhões de dólares.
Para quem não sabe, dekassegui é o trabalhador que deixa sua terra natal para trabalhar temporariamente em outra região ou país.

Recentemente o “Culpa do Guto” teve a oportunidade de entrevistar o jornalista e editor-chefe do Jornal Nippo-Brasil, Helder Horikawa.

Confira.

Culpa do Guto: Por causa da crise econômica mundial, uma grande quantidade de dekasseguis está abandonando o Japão e retornando ao Brasil em busca de melhores condições de vida e de trabalho. Qual é o papel da Imprensa nesse assunto?
Helder Horikawa: Desde que a crise estourou no Japão, afetando diretamente os trabalhadores brasileiros, especialmente os temporários, procuramos acompanhar atentamente tudo o que acontece com a comunidade estabelecida por lá. Mais do que simplesmente noticiarmos as tragédias familiares e pessoais, resolvemos amparar esse público que volta ao Brasil com matérias de orientação e serviços. A grande imprensa, de uma maneira geral, se ampara nos noticiários sobre desemprego e seus trágicos impactos nos brasileiros, o que deu a falsa impressão de que toda nossa comunidade está passando por sérias dificuldades . Mas a verdade é que é minoria o número de brasileiros vivendo nesse cenário de penúria como a mídia tem retratado.

CG: No dia 5 de março, você participou do ciclo de palestras Ciate Itinerante realizadas pelo Centro de Informação e Apoio ao Trabalhador no Exterior (Ciate) sobre a empregabilidade do ex-dekassegui no Brasil. Quais as principais dificuldades que ele enfrenta para trabalhar no Brasil?
HH: O brasileiro que volta do Japão é um trabalhador que ficou, em média, dois a três anos fora do país. Ele retorna desinformado e com poucas expectativas de encontrar uma reposição no mercado a curto prazo. Em média, o ex-dekassegui demora cerca de três a quatro meses para encontrar emprego por aqui (é uma estatística do Grupo Nikkei de Promoção Humana). Essa dificuldade é gerada pela falta de experiência e a baixa qualificação de muitos deles. Assim, tem muita gente "aceitando qualquer coisa". Mas o caminho para a retomada da vida no Brasil não é bem assim.

CG: Há diferenças impactantes entre o Japão e o Brasil na maneira como os jornalistas abordam as notícias, sejam elas pelo rádio, televisão, jornal impresso ou internet?
HH: Como mencionei anteriormente, como editor de um semanário destinado à comunidade japonesa, que sempre retratou o fenômeno dekassegui, nosso olhar jornalístico é, neste momento de crise, mais focado em ações de orientação e serviços. Isso, porém, não significa que o noticiário do dia-a-dia, em especial das dificuldades, não seja retratado semanalmente. Mas é que a grande mídia, seja TV, jornal ou internet, tem uma visão de "notícia pura". Assim, dizer que brasileiro vive nas ruas de Tóquio não é novidade para nossa redação. Mas isso, certamente, é notícia para a grande imprensa.

CG: Podemos notar que há cada vez mais jovens nas redações de jornais. Isso também acontece no jornal Nippo-Brasil?
HH: Temos uma redação, de fato, bastante jovem. Alguns recém-saídos da universidade, outros ainda em curso. Isso é bom, porque o jovem é, apesar da inexperiência, arrojado, vai atrás da notícia mesmo. E assim deve ser.

CG: Por que você decidiu se tornar jornalista? Quais são suas metas na profissão?
HH: A escolha pela profissão ocorreu de forma natural. Sempre fui muito elogiado nas redações nos tempos de colégio, adorava leitura, e comunicação, na prática, sempre foi meu forte. Minhas metas? Crescer ainda mais profissionalmente e ampliar meus conhecimentos. Em qualquer profissão, vivemos aprendendo todos os dias. No jornalismo essa sensação é ainda mais latente. Em início de carreira fazemos de tudo um pouco. Eu, por exemplo, passei por todas as editorias, de comunidade à esportes, passando pela música.

CG: Quais são as características essenciais para um bom jornalista?
HH: Perseverança, olhar clínico para um fato e cultivar sempre as suas melhores fontes. Costumo dizer sempre aos meus jornalistas de que esses fatores são indispensáveis à profissão.


Entenda melhor a situação dos dekasseguis assistindo à reportagem do Globo Repórter que foi ao ar dia 01 de maio de 2009.



Fontes:
Primeira Página: 13 a 19 de Agosto de 2008
Informações: Jornal Nippo-Brasil
Wikipedia

Culpadas:
Amanda Pás
Beatriz Ferrete

Agradecimento:
Helder Horikawa

Do começo à Última Hora

A história começa de maneira simples, Samuel Wainer, o jornalista, vai ao sul do Brasil e entrevista Getúlio Vargas, o ex-presidente. Os dois tornam-se amigos (coisa extremamente comum nos dias de hoje, qual jornalista não tem um amigo que já foi presidente?). Tempos depois, Vargas propõe ao repórter a criação de um jornal.

A lenda fora criada, a verdadeira revolução na história da imprensa brasileira. Em 12 de junho de 1951, surge o jornal Última Hora, com máquinas ociosas, mas muitos talentos, diagramação inovadora, uma só linha editorial, coberturas feitas em equipes e capa inédita: uma carta de Getúlio a Wainer, falando da importância de uma imprensa popular. O popular UH sai às bancas rumo ao sucesso. Sucesso imediato? Muitos dizem que sim, mas o próprio Samuel revela, em suas Memórias, que se decepcionou um pouco. Pouquíssima coisa, porque com dedicação, trabalho, ousadia, influência política e Wainer, nada poderia dar errado. Na década de 1960, o Última Hora já estava em Porto Alegre, Recife, Belo Horizonte, São Paulo e outras capitais.

Porém, a criação de um jornal apoiado por Vargas despertou o ódio da Tribuna da Imprensa, ou melhor, de seu criador, Carlos Lacerda (quem diria hein? De roommate e companheiro de Diretrizes a inimigo), ele acusava o Última Hora de ser financiado com o dinheiro do governo, queria destruir Vargas e Wainer de qualquer forma. E, detalhe importante, recebia a ajuda de Chatô (o Chato), que disponibilizou a Lacerda a TV Tupi. Se não fosse isso, nada aconteceria, o Tribuna da Imprensa era fraco demais. Mas pudera né, Wainer saiu dos Diários Associados de Assis Chateaubriand para ser dono do concorrente, o Rei do Brasil ficou com medo, coitado!

Em 1953, Carlos Lacerda, o Corvo, como era conhecido na redação do UH, publicou na Tribuna da Imprensa que Samuel não era brasileiro, havia nascido na Bessarábia, Romênia e que a lei brasileira não permitia que um estrangeiro fosse dono de um meio de comunicação no Brasil. E daí? Quem conhece alguma coisa sobre Wainer sabe que ele tinha alma brasileira, que era um profissional e tanto, e que não agiu de má fé.

A vida de Wainer e do UH caminhavam conforme a política. Amado e cortejado por Vargas e pelos getulistas, odiado pela oposição, Última Hora sobreviveu a uma CPI; à morte de Getúlio; aos complicados meses do governo de Jânio Quadros; aliou-se a Juscelino Kubitschek e, depois, a Jango.

Com o Golpe Militar de 1964, Samuel se exila em Paris e negocia o abrandamento da linha editorial do jornal por um passaporte. "O Profeta", como era chamado por Getúlio Vendeu o UH de São Paulo para Otávio Frias de Oliveira, do grupo Folhas e o jornal do Rio de Janeiro para um grupo de empreiteiros, foi o fim da grande aventura.

P.S.: O homem da foto é o Wainer.

Fontes:
Referências:
NUNES, Augusto. Minha Razão de Viver, autobiografia de Samuel Wainer: Editora Planeta.
MARTINS, Ana Maria & DE LUCA, Tania Regina. História da Imprensa no Brasil: Editora Contexto.

Culpada: Camila Oliveira

Já ouviu falar em Jornalismo Literário? Não? Então leia o post abaixo e seja bem-vindo ao Gonzo Jornalismo!

New Journalism
Ao longo da história do jornalismo, podemos perceber que foram muitas as tentativas de estreitar as relações do jornalismo com a literatura. Muitas delas fracassaram pelo excesso de lirismos, pelo excesso de parnasianismos no texto, e o resultado dessas experiências era algo indefinido: nem literatura, nem jornalismo.

Porém, outras tentativas foram bem sucedidas, entre elas o New Journalism. O Novo Jornalismo é um gênero jornalístico, surgido na imprensa dos Estados Unidos, no começo dos anos 60. Classificado como um romance de não-ficção, sua principal característica é misturar a narrativa jornalística com a literária.

Mesmo que o Novo Jornalismo não esteja sendo utilizado nos dias atuais com tanta frequência, ele ainda desperta atenção e curiosidade nos leitores. Isso mesmo! Temos certeza de que vocês, leitores, estão super curiosos para ler uma reportagem literária. Bom, o Culpa do Guto vai resolver o problema. Aqui vai um link do texto "Eles Venceram", de Bob Fernandes, que mostra o estilo desse Novo Jornalismo: Eles Venceram

“O Novo Jornalismo, embora possa ser lido como ficção, não é ficção. É, ou deveria ser, tão verídico, como a mais exata das reportagens, buscando embora uma verdade mais ampla que a possível através da mera compilação de fatos comprováveis, o uso de citações, a adesão ao rígido estilo mais antigo. O Novo Jornalismo permite, na verdade exige, uma abordagem mais imaginativa da reportagem e consente que o escritor se intrometa na narrativa se o desejar, conforme acontece com frequência, ou que assuma o papel de observador imparcial, como fazem outros...”
(Gay Talese)

Gonzo Journalism
Na segunda metade da década de 60 surge, em pleno auge das novas liberdades editorias, uma vertente do Novo Jornalismo: O Gonzo Jornalismo.
Gonzo é um estilo de narrativa em jornalismo, cinema ou qualquer mídia, em que o narrador abandona qualquer pretensão de objetividade e se mistura profundamente com a ação. O estilo surgiu nos Estados Unidos e Hunter S. Thompson*, um jornalista free-lancer do Estado de Kentucky foi o criador. Ele usou a palavra Gonzo pela primeira vez em 1970 para descrever um artigo. Thompson quebrou a barreira essencial que separa o jornalismo da ficção: o compromisso com a verdade.

Também chamado de jornalismo fora-da-lei, jornalismo alternativo e cubismo literário, o gênero inventado por Thompson tem sua força baseada na desobediência de padrões e no desrespeito de normas estabelecidas, além de abordar quatro grandes temas: esporte, política, sexo e drogas.

PS: O muppet Gonzo mandou um recado para o Culpa do Guto, pedindo para avisar todos os nossos leitores que ele não tem nada a ver com essa história de Jornalismo Gonzo. Pronto Gonzo, o recado já está dado! Agora, de volta a explicação.

*Hunter Stockton Thompson: (18 de Julho de 1937, Louisville, Kentucky, EUA - 20 de Fevereiro de 2005, Aspen, Colorado, EUA)
Thompson, esse coroa simpático da foto, foi um jornalista e escritor norte-americano. Ficou conhecido pelo seu estilo de escrita extravagante, aperfeiçoado em seu livro mais famoso, Medo e Delírio em Las Vegas (Conrad, 2007).
Hunter Thompson suicidou-se com um tiro de espingarda na cabeça em 20 de fevereiro de 2005. Ele deixou um bilhete em que se mostrava deprimido e sofrendo de terríveis dores após uma cirurgia na região da bacia. Seu corpo foi cremado e as cinzas foram lançadas ao céu por um pequeno foguete, em uma cerimônia bancada pelo ator Johnny Depp, seu amigo e que interpretou o personagem Raoul Duke na versão para o cinema de Medo e Delírio em Las Vegas.

New Journalism X Gonzo Journalism
O Gonzo Jornalismo é um gênero que, apesar de ser uma vertente do Novo Jornalismo, apresenta características singulares e, portanto, deve ser considerado de forma diferenciada.

Se no Novo Jornalismo a técnica de acompanhar a fonte por semanas ou mesmo meses a fio recebia o nome de imersão, no Gonzo Jornalismo o termo demonstra-se insuficiente posto que a imersão neste gênero implica um envolvimento muito mais pronunciado do repórter com o objeto do seu trabalho. Esta afirmação, contudo, não significa que um artigo gonzo exija mais tempo de investigação do que um encaixado nos padrões do Novo Jornalismo, mas sim que necessite de uma proximidade maior entre o investigador e o que é investigado, a ponto dos dois se mesclarem e se confundirem.

Há quem diga que o gonzo não é jornalismo, uma vez que os textos não são imparciais, nem sérios, além da falta de objetividade e seriedade com que a notícia é tratada, fugindo a todas as regras básicas do jornalismo. No entanto, o gonzo está tendo cada vez mais adeptos, pois muito de seu jornalismo passa pelas funções expressivas da Comunicação e da Literatura.

Gonzo Jornalismo no Brasil:
Hoje em dia no Brasil, o mais famoso repórter gonzo é Arthur Veríssimo, que escreve para a Revista Trip, mas também podemos encontrar o Gonzo Jornalismo em várias edições das Revistas Playboy, Piauí, dentre outras publicações nacionais e sites.
Clique Aqui para ler o texto "E Soa o Gonzo!", de Arthur Veríssimo, para a Trip.

Segue abaixo um vídeo da BBC que fala um pouco sobre Hunter Thompson e seu Gonzo Journalism:
(Ah, sinto muito mas não achamos o vídeo legendado! Então aproveitem para, também, treinar o inglês)




Culpada: Beatriz Ferrete
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Site de Referência

Metalinguagem pouca é bobagem – Mais um post sobre blogs. Ou melhor, um editorial.

Se me perguntassem o que eu gostava de ler, há 20, 10, 5 anos, as respostas seriam das mais diversas. Hoje, passo mais tempo do que deveria na Internet, lendo sobre tudo um pouco, e um pouquinho mais sobre o que me agrada. Sites, feeds, blogs. Ah, não dá pra esquecer do Twitter e das ferramentas de relacionamento virtual. Chame de networking se preferir.

Ninguém gasta muito tempo lendo sobre assuntos que não lhe entretenham ou interessem. Imagino que a maioria dos que lêem este blog tenham uma experiência semelhante. Afinal, afinidade é uma característica determinante na escolha por um veículo midiático. Televisão? Rádio? Internet? Jornal impresso ou revista? A convergência entre o que é prazeroso e o que é conveniente determina que mídias são consumidas, e quais têm que se reinventar para sobreviver.

Como diria minha mãe esta é uma geração de “interneteiros”. Para muitos da nossa sala, no curso de Jornalismo, “fazer” blog é uma experiência nova. Mas o blog não é. Ele surgiu há mais de 10 anos. E tem de todo jeito, pra todo gosto – pessoais, corporativos, sobre assuntos específicos. É o tal do user generated content (ou conteúdo gerado pelo consumidor, em bom português).

Uma qualidade importantíssima para um bom jornalista é faro. E “faro” é perceber o que “passou batido”, conseguir enxergar um padrão, antecipar uma necessidade através das dúvidas que surgem no público que se deseja atingir. Se o Google faz, porque eu não posso? E daí nessa de ficar fuçando na vida dos outros seguindo as pessoas no Twitter, percebi que alguns colegas estavam à deriva neste vasto oceano do blogger/wordpress/livejournal/etc.

Para quem está começando, uma ótima referência é o Online Journalism Blog. Lá estão disponíveis tutoriais, artigos e dicas bibliográficas. De mais interessante, há um texto que lista 12 idéias de como iniciar um blog. A lista completa você encontra aqui. Abaixo, um resumo dos pontos principais:

- Faça uma lista. Sério, listas são super populares na internet. “Uma boa dica para um post é fazer uma lista dos 10 melhores/mais visitados blogs na sua área” – o que também pode ser útil como pesquisa para descobrir quais são.
- Escreva um tutorial. Uma das buscas mais populares na internet começa com “Como fazer...”. “Tutoriais também atraem comentários que podem ajudar a construir seu conhecimento sobre o assunto”.
- Entreviste alguém. Entrevistas por email podem funcionar, mas uma gravação de vídeo ou áudio no site sempre atribui maior valor ao post. Se estiver procurando por conselhos, uma lista curta de dicas é uma boa idéia. Também dá para criar uma série de entrevistas com visões diferentes do mesmo tópico.
- Cubra um evento. Vá a um evento relevante, e escreva a respeito.
- Faça perguntas. Funciona melhor se você já tem um público cativo que costuma comentar ou se for por um excelente motivo. Ou crie uma enquete.
- Reflita sobre um assunto. “Pode ser algo que aconteceu a você nest semana, uma decisao ou escolha que você fez, um lead para uma matéria, ou qualquer outra coisa. Porque aconteceu? Quais foram as implicações? O que voce aprendeu? Deixe aberto para que outros possam contribuir com suas experiências ou insights”.

Convenhamos. O blog, como ferramenta de comunicação e mídia, tem um tempo e características particulares. Vale destacar a possibilidade de edição, o que significa que há espaço para experimentos e erros. Tem também uma etiqueta própria. Uma das maneiras mais eficientes de conseguir comentários é comentando. Acaba sendo um pouco como uma visita de comadres – se alguém te visita não custa nada retribuir o favor. É uma maneira de gerar tráfego. Mas, por favor, evite o SPAM. É óbvio e pega super mal.

Idéias originais são sempre bem-vindas, e o espaço é ilimitado. Mas cuidado para não se empolgar e deixar o texto cansativo. Seja engraçado, ou ao menos tenha estilo. Compartilhe sua visão do mundo. Ponha links. Dê crédito a quem é de direito.

Leia. Experimente. Pesquise e então ouse. Se errar, peça desculpas e siga em frente. Se tiver tempo, e se puder, aprenda HTML. E o que eu considero o mais importante: não leve tão a sério. É só um blog.

Fonte: Online Journalism Blog
Imagem: Logotipo do Blogger

Culpada: Rejoice Sunshine Strauss

Não vire a cara para a Virada Cultural!

Quando o assunto surgiu na sala de aula, nós do Culpa do Guto percebemos que a pauta era boa e resolvemos falar um pouco mais sobre a Virada Cultural 2009, que aconteceu no último fim de semana. Durante 24 horas, entre os dias 2 e 3 de maio, a cidade de São Paulo foi palco de quase 800 atrações divididas entre 150 locais diferentes. Inspirado no evento Nuit Blanche, que também reúne diversos espetáculos nas ruas de Paris, o ex-prefeito José Serra promoveu a primeira edição da Virada Cultural em 2005.

Agora, vamos deixar a história de lado para comentar um pouco sobre as opiniões que levantamos a respeito dos eventos – que na opinião de quem foi, podem ser resumidos em duas simpáticas palavras: sujeira e muvuca. Calma, nós não vamos só criticar a Virada Cultural, afinal, é uma ideia excelente. Infelizmente, nenhum dos Cúmplices do Guto pôde ir aos shows, mas ouvimos a opinião de alguns paulistanos que compareceram e têm o que dizer. E o fato é que lixo nas ruas e cultura nos palcos houve de sobra, mas faltaram banheiros e educação do público.

Para o estudante Heitor das Neves, a organização do evento e o comportamento do
público ficaram empatados. E por zero a zero. “Faltaram banheiros, mas a prefeitura tem só uma parcela da culpa, pois tinha muito lixo, inclusive nos banheiros químicos. Culpa também das pessoas”.

Por outro lado, todos os entrevistados fizeram questão de apoiar a ideia. O estudante Arthur Bassani afirmou “A iniciativa é boa. Bandas grandes, apresentações de teatro, tudo de graça. O problema é que tinha muita gente, mas faz parte”

No blog Olhometro, dirigido por Ana Paula, estudante de Jornalismo da Universidade Metodista, há um texto muito bom: “Cilada Cultural 2009”. Vale à pena dar uma olhada. Clique aqui para conferir o artigo.

Um evento desse porte, imitando um país de primeiro mundo como a França, nos lembra o Império Romano com seu “panis at circenses”, a política do pão e circo, em uma época em que o Estado promovia espetáculos para distrair a plebe de questões políticas.

Definitivamente, o apelo cultural do Brasil é vasto e miscigenado, mas não tem como comparar, socialmente, paulistanos com pessoas de diversos Estados, que vieram ao coração do país para prestigiar esses shows a céu aberto, ou com franceses, que lêem em média sete livros por ano. Muito menos com uma sociedade clássica como a romana.

O Brasil deseja, cada vez mais, ser um exemplo cultural. Tomara que, nós brasileiros, continuemos a pensar dessa forma. E, mais ainda, tomara que iniciativas como essa aconteçam em todo o país, sendo lapidadas para que o público se interesse cada vez mais pela cultura brasileira.

Culpados: Felipe Paparella, Danilo Martins e Henrique Mathias
Fontes das Imagens: Virada Cultural e Blog Vambora

Que dia é hoje???

Se você não se lembra que dia é hoje, Culpa do Guto vai ajudar você. Nesse domingo, dia 3 de maio de 2009, comemora-se o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. E para homenagear, vamos sair da nossa periodicidade e publicar algo falando sobre o assunto. Depois de pensar muito, resolvemos não escrever sobre a censura em si. Seria um tanto superficial fazer isso, porque a história da censura na imprensa é longa e persistente. Então, resolvemos falar sobre o papel do Pasquim na censura.
Extraordinariamente, o texto não foi escrito por nenhum “Culpado”, é de autoria de Cacá Jacomucci, professor de História do Objetivo Sorocaba, usado na aula “Brasil: Cultura e Resistência nos Anos 60 e 70”, no contexto de Sons e Imagens do Século XX.
Boa Leitura.

Pasquim: a resistência com humor
Na tradição de publicações, que desde o começo do século XX usavam o humor da charge para criticar a sociedade e a política, como O Malho, Fon Fon, Careta e Dom Quixote, a década de 70 contou com a irreverência e ousadia de O Pasquim. Formado por um bando de jornalistas e cartunistas sem trabalho na grande imprensa e criado num bar na Cinelândia (Rio de Janeiro), surgiu como um jornal comportamental, tratando de temas que ainda eram tidos como tabu: sexo, feminismo, drogas, contracultura, divórcio. Tornou-se cada vez mais politizado e crítico ao regime militar conforme a perseguição dos militares aumentava. A sutileza e inteligência dos textos e charges (muitas charges) conseguiam burlar a censura, quando não embebedavam o censor ou produziam uma quantidade imensa de matérias e o jornal que chegava às bancas era aquilo que sobrava após os cortes.

Jaguar, Ziraldo, Henfil, Paulo Francis, Angeli, Luis Carlos Maciel, Tarso de castro, Millor Fernandes, Sérgio Cabral, Fortuna, foram alguns dos nomes que escreveram e dirigiram o jornal durante suas décadas de existência. Prisões de todos na redação, apreensão dos exemplares nas bancas, telefonemas ameaçadores, eram parte do cotidiano do jornal durante a ditadura militar. Seus leitores eram universitários, intelectuais, artistas, todos que encontravam em suas páginas aquilo que a grande imprensa não ousava publicar.

O nome “pasquim” significa panfleto difamatório, jornal de baixa qualidade, e foi escolhido justamente para esculhambar com aqueles que inevitavelmente se sentiram incomodados com sua publicação. Eram freqüentes as longas entrevistas, sempre em tom descontraído, quando não de deboche. Ficou famosa a entrevista de Leila Diniz onde os infindáveis palavrões foram substituídos por (*), impostos pela censura. Uma charge gozando Pedro I levou todos para a cadeia.

Jaguar, um dos fundadores do jornal, declarou: “haveria um grande suspiro de alívio da grande imprensa brasileira se o Pasquim fechasse, porque era um jornal que sacaneava a desinformação que a grande imprensa passava para o público.” Esse era o objetivo do jornal, ser crítico de tudo que era estabelecido às autoridades, o moralismo das elites, os bons costumes da classe média, a história oral. Várias frases publicadas pelo semanário, criticando o autoritarismo do regime militar ficaram famosas na época:

“Em terra de cego, quem tem um olho emigra.”

“O importante não é vencer, é sair vivo.”

“Quem é vivo sempre desaparece.”

“Imprensa é oposição, o resto é armazém de secos e molhados.”

Com o afrouxamento da censura no início dos anos 80, outros jornais e revistas começaram a ocupar fatias do público do Pasquim e, lentamente, o jornal agonizou, sendo extinto em 1991, cumprindo um papel fundamental tanto no sentido de informar, como no de formar uma nova leva de jornalistas e cartunistas que arejaram a “engravatada” imprensa brasileira.

Culpada: Camila Oliveira
Como dito antes, créditos para o Professor Cacá Jacomucci, autor do texto na íntegra.