Do começo à Última Hora

A história começa de maneira simples, Samuel Wainer, o jornalista, vai ao sul do Brasil e entrevista Getúlio Vargas, o ex-presidente. Os dois tornam-se amigos (coisa extremamente comum nos dias de hoje, qual jornalista não tem um amigo que já foi presidente?). Tempos depois, Vargas propõe ao repórter a criação de um jornal.

A lenda fora criada, a verdadeira revolução na história da imprensa brasileira. Em 12 de junho de 1951, surge o jornal Última Hora, com máquinas ociosas, mas muitos talentos, diagramação inovadora, uma só linha editorial, coberturas feitas em equipes e capa inédita: uma carta de Getúlio a Wainer, falando da importância de uma imprensa popular. O popular UH sai às bancas rumo ao sucesso. Sucesso imediato? Muitos dizem que sim, mas o próprio Samuel revela, em suas Memórias, que se decepcionou um pouco. Pouquíssima coisa, porque com dedicação, trabalho, ousadia, influência política e Wainer, nada poderia dar errado. Na década de 1960, o Última Hora já estava em Porto Alegre, Recife, Belo Horizonte, São Paulo e outras capitais.

Porém, a criação de um jornal apoiado por Vargas despertou o ódio da Tribuna da Imprensa, ou melhor, de seu criador, Carlos Lacerda (quem diria hein? De roommate e companheiro de Diretrizes a inimigo), ele acusava o Última Hora de ser financiado com o dinheiro do governo, queria destruir Vargas e Wainer de qualquer forma. E, detalhe importante, recebia a ajuda de Chatô (o Chato), que disponibilizou a Lacerda a TV Tupi. Se não fosse isso, nada aconteceria, o Tribuna da Imprensa era fraco demais. Mas pudera né, Wainer saiu dos Diários Associados de Assis Chateaubriand para ser dono do concorrente, o Rei do Brasil ficou com medo, coitado!

Em 1953, Carlos Lacerda, o Corvo, como era conhecido na redação do UH, publicou na Tribuna da Imprensa que Samuel não era brasileiro, havia nascido na Bessarábia, Romênia e que a lei brasileira não permitia que um estrangeiro fosse dono de um meio de comunicação no Brasil. E daí? Quem conhece alguma coisa sobre Wainer sabe que ele tinha alma brasileira, que era um profissional e tanto, e que não agiu de má fé.

A vida de Wainer e do UH caminhavam conforme a política. Amado e cortejado por Vargas e pelos getulistas, odiado pela oposição, Última Hora sobreviveu a uma CPI; à morte de Getúlio; aos complicados meses do governo de Jânio Quadros; aliou-se a Juscelino Kubitschek e, depois, a Jango.

Com o Golpe Militar de 1964, Samuel se exila em Paris e negocia o abrandamento da linha editorial do jornal por um passaporte. "O Profeta", como era chamado por Getúlio Vendeu o UH de São Paulo para Otávio Frias de Oliveira, do grupo Folhas e o jornal do Rio de Janeiro para um grupo de empreiteiros, foi o fim da grande aventura.

P.S.: O homem da foto é o Wainer.

Fontes:
Referências:
NUNES, Augusto. Minha Razão de Viver, autobiografia de Samuel Wainer: Editora Planeta.
MARTINS, Ana Maria & DE LUCA, Tania Regina. História da Imprensa no Brasil: Editora Contexto.

Culpada: Camila Oliveira

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